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HDT dedica atendimento humanizado a portadores do HIV

8 de agosto de 2017

Por Bastidores

Psicólogos do HDT/HAA lidam comangústias de pacientes que enfrentam preconceitos com a doença que um dia foiconsiderada sentença de morte

 

Acolher o paciente oferecendo a ele cuidadoe atendimento humanizado é um dos princípios norteadores do Instituto Sócrates Guanaes (ISG), organizaçãosocial gestora do Hospital de Doenças Tropicais HDT/HAA desde junho de 2012. Ahumanização no serviço prestado às pessoas que vivem e convivem com o Vírus da Imunodeficiência Humana(HIV) é característicaprimordial da gestão, que trabalha diariamente para promover assistência dequalidade aos pacientes, preocupando-se não somente com o reestabelecimento dasaúde, mas também com oequilíbrio social, biológico e psicológico.

 

Uma das principais barreirasenfrentadas por pessoas vivendo com o HIV é a revolta e a dificuldade deaceitação do diagnóstico. Isso ocorre porque o desconhecimento, gerador dopreconceito, é um dos principais fatores de exclusão social da Pessoa Vivendocom HIV (PVHA). Temendo represálias, muitos portadores de HIV não se sentem àvontade de contar sobre a doença sequer à própria família. A informação é oprincipal caminho para desmistificar os “medos” pré-estabelecidos na sociedadee que, muitas vezes, não correspondem à realidade da condição de PVHA.

 

Para ajudar os pacientes HIV positivoe suas famílias a vencerem esses medos, o apoio psicológico é essencial. Otrabalho realizado pelos profissionais da Psicologia dentro do HDT/HAA,referência no tratamento de doenças infectocontagiosas, é indispensável. “Com oadoecer físico, a internação, o diagnóstico impactante e muitas vezes também oisolamento, a pessoa soropositiva pode ser afetada emocionalmente também. Oacompanhamento dos pacientes que correspondem ao perfil do HDT é fundamental eo objetivo é que consigamos reduzir o sofrimento psíquico e que eles nãoabandonem o tratamento”, esclarece Luciana Mendonça de Carvalho, psicóloga quefaz parte da equipe multidisciplinar do hospital.

 

Aderir corretamente ao tratamento éindispensável para reverter o quadro clínico do paciente que possui HIV. “Hoje,em virtude do tratamento antirretroviral, o paciente praticamente não temproblemas físicos. É possível melhorar a qualidade de vida e da saúde de formageral, além de diminuir o risco de transmissão do vírus. A maior dificuldade éna parte de discriminação e aceitação social”, explica a infectologistaChristiane Kobal. Ainda segundo ela, a maioria das pessoas contaminadas adereao tratamento corretamente e pelos exames são constatados bons resultados.

 

“Foi com o psicólogo que descobri queo remédio era para a vida toda, mas que tomando certo eu poderia ter uma vidanormal. Eu pensava que mesmo tomando o medicamento poderia ter recaídas, mas descobrique vou ser mais forte e poder trabalhar. Mas tem hora que nada ajuda”, refleteS.A., marceneiro de 43 anos, HIVpositivo, internado no HDT. “Há pacientes que conseguem lidar bem, apesar doimpacto inicial, compreendendo a necessidade do tratamento, porém tem pacientesque por uma estrutura emocional frágil, não conseguem enfrentar tão bem, veemisso como uma sentença de morte”, explica a psicóloga.

 

Ao lidar diariamente com dezenas depessoas de diferentes origens, a equipe de Psicologia do hospital criadiferentes formas de abordagem, sempre com o pressuposto de que o pacienteconseguirá aderir ao tratamento. O resgate da autoestima é uma das questõestrabalhadas pelos psicólogos, já que a falta dela é um sinal comumenteevidenciado entre os pacientes. Além disso, a percepção negativa do própriocorpo; dificuldade de se olhar no espelho; fuga de contatos sociais por medo derejeição; ansiedade generalizada; medo da morte; raiva; e também depressão sãoalguns dos sentimentos que afligem as pessoas que se descobrem infectadas peloHIV. “As técnicas utilizadas para combater isso são diversas, depende de cadapaciente, como a escuta empática, desmistificação de fantasias acerca dadoença, redução de ansiedade e de angústia, validação de sentimentos, fortalecimentode vínculo com a equipe, fornecimento de materiais informativos sobre odiagnóstico e tratamento, entre outras”, explica a psicóloga.

 

Atualmente, o HDT tem 9.287 pacientesPVHA registrados na farmácia ambulatorial. Cerca de 20 novas pessoas sãocadastradas semanalmente para buscar a medicação, considerada fundamental paraque o paciente consiga ter uma vida ativa. O marceneiro S.A. faz parte daestatística do hospital há cerca de um mês, quando recebeu o diagnóstico do seuestado de saúde. Diferente de muitos outros, recebeu o apoio instantâneo dafamília, mas, ainda sim, o impacto negativo foi igual. “Eu chorei, não sei comopeguei, tenho medo de ‘cair em uma cama’ e ficar por lá”, relata com olhoscheios de lágrimas.

 

Luciana explica que, para apsicologia, a família é uma extensão do paciente e também deve receber atençãopara lidar com os medos e fantasias. Para tratar as diferenças de perfis depacientes e suas famílias, o profissional da psicologia usa diversasabordagens, podendo ser individual ou em grupo, dependendo da dinâmica de cadafamiliar, do vínculo que existe e da disponibilidade deles em estarem presentese serem acompanhados pelo serviço de psicologia. “o preconceito é algo real emuitas vezes cruel na vida do PVHA. Algumas famílias sofrem preconceito deconhecidos, já outras, o próprio familiar é a pessoa que exclui, a ponto de nãodeixar crianças chegarem perto da pessoa, tudo isso por falta de conhecimento”,revela.

 

“Muitas pessoas acham que se podetransmitir HIV no contato do dia a dia, pelo beijo na boca, abraço, porcompartilhar talheres e isso não existe”, afirma Kobal. Os mitos sobre a doençasurgiram pelo desconhecimento acerca do HIV e da Aids, nos anos de 1980, quandoa mortalidade era de 100%. A infectologista esclarece que, atualmente, aspessoas com HIV que fazem tratamento corretamente e que estão com sucessoterapêutico, a expectativa de vida é igual à população geral que vive sem ovírus.

 

Segundo o Programa Conjunto dasNações Unidas sobre HIV/AIDS (Unaids), o Brasil hoje tem uma das maiorescoberturas de tratamento antirretroviral entre os países de baixa e médiarenda, com mais da metade (64%) das pessoas vivendo com HIV. Segundo oMinistério da Saúde, 87% estão diagnosticadas, 55% do total estão em tratamentoe 50% de todas as pessoas estimadas vivendo com HIV estão com carga viralsuprimida. 

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