Fevereiro Roxo: Reumatologista do HRLN esclarece dúvidas sobre Fibromialgia e Lúpus
17 de fevereiro de 2021
Por Thaís Almeida
Entender a dor do próximo, respeitá-la e ajudar todos a terem qualidade de vida mesmo com doenças sem cura (como a Fibromialgia e o Lúpus), esse é o objetivo da campanha do Fevereiro Roxo, promovida pelo calendário do Ministério da Saúde.
Para ajudar neste propósito, a Dra. Fernanda Dalprat, reumatologista e Diretora Técnica do Hospital Regional do Litoral Norte, participou na última semana, dia 11/02, de uma live realizada pelo colégio Dom Bosco de Caraguatatuba, via Instagram. Na ocasião, a médica fez questão de desmitificar preconceitos sobre essas doenças e reforçar o lema da medicina, e principalmente da reumatologia, de que “toda dor é importante e precisa de tratamento”.
Confira abaixo as respostas dadas pela reumatologista, esclarecendo dúvidas dos internautas:
Qual a função de um médico reumatologista?
Dra. Fernanda Dalprat – Tenho muito prazer em falar da reumatologia. É uma área da medicina que estuda todos os tecidos conjuntivos, ossos, articulações, tendões, músculos, ligamentos, além de doenças autoimunes, e também dores crônicas provenientes desses tecidos e de inflamações.
O que é a Fibromialgia?
Dra. Fernanda Dalprat – É uma doença bem específica, ela não aparece em nenhum exame. É um aumento da percepção da dor. Algumas pacientes falam que dói do fio do cabelo até o pé, chegam entristecidas ao consultório e eu entendo, é verdade o que elas sentem. Digo “elas”, porque a Fibromialgia acomete muito mais mulheres do que homens – mas vale lembrar que eles também podem ser acometidos. A Fibromialgia existe, deve ser respeitada e escutada. É uma doença muito difícil, mas que tem tratamento, há possibilidade de se ter uma vida normal. Entretanto, são necessárias algumas ações medicamentosas e também não medicamentosas – depende não só do médico, mas também do paciente. É possível ter uma vida sem dor.
Como é feito o diagnóstico da Fibromialgia?
Dra. Fernanda Dalprat – Ele é feito clinicamente. Não apenas o exame físico, como também história clínica do paciente. É um conjunto de fatores para chegar em um diagnóstico. É muito raro na primeira consulta conseguir fazer o diagnóstico. Normalmente, o médico pode pedir diversos exames, para descartar outras origens da dor crônica. É possível ainda ter Fibromialgia e ter outra doença que também causa dor crônica – elas podem coexistir. É uma doença que não tem cura, mas há possibilidade de ter uma vida sem dor e saudável.
Como pode ser feito o tratamento não medicamentoso da Fibromialgia?
Dra. Fernanda Dalprat – Mais importante do que qualquer remédio, é o exercício físico. Em todos os congressos que participo, nacionais e internacionais, os especialistas são unanimes em dizer: o exercício físico é a base do tratamento da Fibromialgia. Não só ele, como também a alimentação, ela é uma das bases para o tratamento de toda dor crônica. Existem alimentos que são pró-inflamatórios: como doces, carboidratos e gorduras. Eles ativam a cascata de inflamação. Então, todas as doenças reumatológicas podem ser agravadas por uma alimentação incorreta e também pela ausência do exercício físico.
Quais exercícios podem ajudar no tratamento?
Dra. Fernanda Dalprat – O início do exercício físico é muito difícil para todos nós. Mas para quem tem doenças reumatológicas ou autoimune, os 30 primeiros dias de exercícios físicos ou até os 60 primeiros dias são muito piores, porque a dor pode até piorar. Neste momento, é necessário sair da zona de conforto e lutar, porque é assim que começa a mudança para ganhar mais qualidade de vida. O melhor exercício que tem é o que você vai fazer. Não adianta eu recomendar caminhada, se o paciente odeia caminhada. Então, sempre indico para que o paciente faça o exercício que realmente gosta.
A Fibromialgia está ligada à depressão?
Dra. Fernanda Dalprat – A Fibromialgia sofre muito preconceito. É muito comum ouvirmos que as pacientes estão depressivas ou estressadas. Mas é importante sabermos que a Fibromialgia não é sinônimo de depressão, elas podem estar relacionadas, mas uma não é a causa da outra. Claro, que se alguém tem dor o dia inteiro, vai ter a sua depressão piorada – caso tenha. É necessário entender que elas podem estar relacionadas por um processo químico e físico. Além disso, muitas vezes um paciente com Fibromialgia pode também ter que tomar um determinado antidepressivo, porque esse medicamento também ajuda no tratamento da dor. Porém, cada paciente é um caso, e cada dor é única.
Suplementos alimentares ajudam no tratamento?
Dra. Fernanda Dalprat – É um assunto polêmico. Na medicina baseada em evidências ouvimos muito que alguns suplementos não melhoram o tratamento. Mas, na prática clínica vemos que há suplementos que podem ajudar, por exemplo, magnésio para dor crônica, ou até a vitamina D. Mas é preciso ser uma dosagem suplementar de acordo com exames laboratoriais e indicada por um médico ou por um nutricionista – no caso de alguns suplementos. Vale lembrar mais uma vez, que a melhor ação é o exercício físico, e com certeza ir a um especialista. A fibromialgia é tratada por 3 especialidades médicas: neurologistas, psiquiatras e reumatologistas. Muitas vezes tratamos juntos, essa é a beleza da medicina: várias especialidades trabalham juntas pelo bem do paciente.
O que é o Lúpus?
Dra. Fernanda Dalprat – É uma doença seríssima, autoimune, como se os soldados de defesa do nosso corpo se batessem entre si – então há necessidade de um acompanhamento médico, e muitas vezes também psicológico, além de exercícios físicos e alimentação. É uma doença que requer muitos cuidados, ela não ataca só as articulações (as juntas), ela ataca os órgãos e os sistemas como um todo. Ela tem até predileção por alguns órgãos, como por exemplo, os rins, os pulmões. Por isso, os nefrologistas são sempre nossos parceiros no tratamento do Lúpus. Ele também não tem cura, mas tem tratamento. É uma doença muito específica, existem alguns sinais e sintomas como dores articulares, queda de cabelo, muita fadiga, muito cansaço, manchas faciais, doenças de pele, etc. E temos que entender que não existe diagnóstico fácil na reumatologia. Lúpus também exige muitos exames laboratoriais para o diagnóstico, e a maioria dos pacientes também é mulher.
Há uma explicação para a mudança de tempo afetar tanto pacientes com Lúpus?
Dra. Fernanda Dalprat – Não é científico, mas existem muitas doenças reumatológicas que pioram com o frio. Em toda inflamação os músculos ficam mais rígidos e como no frio a musculatura se contrai mais, acaba-se sentindo mais dor – essa é uma explicação mais simples sobre isso.
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